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Rota das Emoções | Explorando Barreirinhas e Atins, no Maranhão

Em novembro a jornalista especializada em turismo, Flávia Lelis, embarcou numa presstrip pela Rota das Emoções e agora começa a contar aqui no raphanomundo tudo o que é preciso para você também se jogar nesse pedaço mais do que especial do Brasil. 
Lençóis Maranhenses, uma das maravilhas do nosso Brasil - Foto: Flávia Lelis
Matéria por Flávia Lelis*

A Rota das Emoções foi formatada como produto turístico unindo os Estados do Maranhão, Piauí e Ceará numa aventura de cenários paradisíacos, que misturam praia, rio, deserto, floresta, sol e gente da melhor qualidade. Completar a rota inteira – com folga – requer uma estadia de 8 a 15 dias, mas certamente, vale cada centavo, cada minuto. O principal cartão-postal do Maranhão continua sendo os Lençóis Maranhenses, e como brigar com a imponência de um gigante de 155 mil hectares de extensão? Não brigue, encante-se! Mesmo que a capital São Luís guarde grandeza histórica em seus azulejos portugueses e edifícios de arquitetura colonial, longe dali – mais precisamente a 4 horas de carro – está Barreirinhas, considerada a principal porta de entrada para os Lençóis. Aqui, junto às ruas de paralelepípedos não é incomum encontrar uma duna assoprando suas areias, uma paisagem em constante mutação. 

Infraestrutura e Artesanato em Barreirinhas

Ainda que de medidas tímidas, Barreirinhas tem uma boa infraestrutura, com agências bancárias e de turismo, restaurantes, hotéis e pousadas, além de um pequeno exército de lojas de artesanato, onde a estrela é a palha de buriti. De forma impressionante, hábeis artesãs transformam a palha em linha, e com ela confeccionam bolsas, colares, brincos, pulseiras, nécessaires e uma infinidade de outros produtos. Se a beleza dos Lençóis Maranhenses é ouro para Barreirinhas, o buriti certamente é a prata. 

É preciso embarcar numa dessas jardineiras 4x4 para conhecer o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - Foto: Flávia Lelis

A bordo de jardineiras 4x4 – estrategicamente tunadas com fileiras de bancos e grades protetoras – a entrada para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é realizada em meio à estradinhas de areia – ora fina, ora úmida – ladeadas por vegetação nativa. A melhor dica para este trecho é segurar-se firme em uma das barras de ferro, porque por uns 40 minutos todo o seu corpo irá chacoalhar. Também mantenha a cabeça dentro da jardineira, pois o impulso de olhar a paisagem pode render o encontro com imensos galhos de árvores. 

De 4x4 rumo às dunas e lagoas dos Lençóis

No ponto da parada dos toyoteiros – como se intitulam os motoristas – o tempo parece correr numa velocidade de diferente. Corre devagar, enquanto a gente acelera para registrar cada segundo de um cenário de tantos predicativos. Aqui, neste horizonte tomado de dunas imponentes o meu Brasil toma contornos de um gigante pela própria natureza. Lindo, incrível, maravilhoso. Busque todos os adjetivos e ainda faltarão palavras para descrever a paisagem diante dos olhos. Um dos pontos altos daqui é a conservação, ou seja, ver um micro pedacinho de lixo é raro, e todos os guias se mantêm engajados em preservar o meio ambiente, entendendo que ali é o escritório deles, e que precisa ser mantido limpo.

Dunas a perder de vista no Maranhão, estado que faz parte da Rota das Emoções - Foto: Flávia Lelis
Lagoas de água doce formadas pós temporada de chuvas transformam a paisagem num oásis - Foto: Flávia Lelis
Para o passeio para os Lençóis reserve no mínimo quatro horas, e fique atento ao fato de que não há estrutura de banheiros, muito menos um restaurante para comprar aquela aguinha. Leve sua água e sacolinha de casa, bem como, bastante protetor solar, chapéu, roupas confortáveis e chinelo. Todo o resto é peso dispensável, uma vez que você irá encarar caminhadas longas na areia fininha, incluindo as subidas para lá de íngremes das dunas. Mas sabe aquele clima de oásis? Então, após a temporada de chuvas que se estende até meados de junho, os Lençóis exibem suas mais belas lagoas, perfeitas para um banho de água doce, numa espécie de paraíso particular. Meus olhos se encantaram com a Lagoa dos Toyoteiros, da Preguiça, Esmeralda, além da famosa Lagoa Azul

No Maranhão, ficamos pequenos diante dessa paisagem formada por extremos - Foto: Flávia Lelis
Percorrer os Lençóis Maranhenses só é possível se feito junto a empresas de turismo e guias credenciados, lançar mão do trabalho desses profissionais certamente pode ser parte do sucesso da viagem. Eu usei os serviços da São Paulo Ecoturismo e tive o Jairo como guia. Ele foi simpático e tornou a viagem mais divertida. 

Hospedagem e gastronomia às margens do Rio Preguiças

Para pernoitar, uma das pousadas mais conhecidas de Barreirinhas é a Encantes do Nordeste, que além de acomodações confortáveis, spa e um café da manhã sensacional, acumula o Restaurante Bambaê. A uns 5 minutos da pousada, o Bambaê é uma área verde ultra acolhedora onde você pode almoçar e jantar enquanto admira as águas do Rio Preguiças. Para aqueles que viajam com crianças, eles acabam de lançar o parque Kaya N´gan Daya com vários brinquedos em meio à área verde. Na hora do cardápio uma boa sugestão é a pescada amarela acompanhada de salada fresca e arroz com açafrão. Não deixe de experimentar o suco de bacuri – uma fruta local – e renda-se ao sorvete de tapioca com coco. É amor.

No Restaurante Bambaê, o suco de bacuri é a pedida para aplacar o calor do Nordeste - Foto: Flávia Lelis
A Piscina da Pousada Encantes do Nordeste fica cercada de verde - Foto: Flávia Lelis
As margens do Rio Preguiças guardam paisagens bucólicas como essas da imagem acima - Foto: Flávia Lelis

A simplicidade de um vilarejo chamado Atins

Outra “porta” para os Lençóis que ganha destaque no coração dos turistas é Atins. O vilarejo é acessível a partir do Rio Preguiças, e num percurso de aproximadamente uma hora de barco você é levado para uma região praticamente intocada do mapa maranhense. Antes, uma parada rápida – e absolutamente necessária – na Praia do Caburé, onde de um lado se tem banho no Oceano Atlântico, e de outro, no Rio Preguiças. No centro de um banco de areia está o restaurante Cabana do Peixe, onde a Dona Silvana comanda uma cozinha vencedora: robalo assado, camarão grelhado e cocada mole. Esse trio fará festa no seu paladar.

Um banco de areia divide separa o Rio Preguiças do Oceano Atlântico, suas conchas e ondas - Foto: Flávia Lelis
Apetitosos camarões grelhados servidos por Dona Silvana, na Cabana do Peixe - Foto: Flávia Lelis
A chegada à Atins tem traços de delicadezas. Talvez sejam as ruas de areia, ou a árvore plantada no meio da via. Ou ainda aquela simpatia maranhense de sorriso rasgado. No caminho para o Parque dos Lençóis a trilha sonora é por conta dos vento nos ouvidos, e a nós resta o privilégio de conferir grandes campos cobertos de dunas, mata nativa, cabras, ovelhas, bodes e porcos pastorando solitariamente. Ao desembarcar, há certamente a ideia de que será impossível ficar impressionado novamente com o esplendor das dunas dos Lençóis. Mero engano. Em minutos, aquele sentimento de deslumbre brota novamente, e você se questiona se é tudo real. O banho na Lagoa do Gavião é aprazível, e então, vem o pôr do sol. Aquele ponto final para um dia de natureza perfeita.

Atins e suas poucas ruas de areia encantam aqueles que buscam uma viagem rústica e frugal - Foto: Flávia Lelis
O tom dourado do pôr do sol toma conta das águas e areias dos Lençóis, tornando ainda mais difícil a despedida - Foto: Flávia Lelis
Em virtude da extensão e da profunda semelhança de toda a paisagem é absolutamente inviável realizar um passeio no Parque dos Lençóis Maranhenses sem a presença de um guia, como o Fagner, que me acompanhou nessa parte da viagem. Mesmo que você esteja em veículo próprio, não abra mão de um guia local. 

Os sabores e a hospitalidade maranhenses

Atins tem clima e jeito de vila, logo, há luz de velas em algumas residências e comer é um momento caseiro, com sabores que remontam a nossa própria casa. Recomendo o Restaurante do Sr. Antônio que, numa mistura de refeitório e loja de artesanato, manda lá da cozinha cavala e camarões grelhados apetitosos. À noite, Atins leva seus visitantes e moradores para um papo à luz da lua, e em lugares como a Villa Jurará, parte da Pousada Jurará, você encontra povos de todos os cantos. Franceses, italianos e alemães são recorrentes. Além da fama dos Lençóis, muitos gringos chegam lá motivados pelos bons ventos que são ideais para a prática de Kitesurf

A Villa tem quartos espaçosos e mobília nova, ar condicionado e wi-fi, contudo, o café da manhã acontece no restaurante da Pousada Jurará onde encontrei algumas colegas italianas de pijama. Sem etiqueta excessiva, sem frescura. Na melhor vibração pé na areia, Atins é amor em cada uma de suas seis esquinas, e desejar uma casinha na vizinhança é sentimento recorrente. 

A rústica e charmosa Villa Jurará, em Atins, Maranhão - Foto: Flávia Lelis

SERVIÇO
Passeio Lençóis Maranhenses: R$80,00 por pessoa | Restaurantes: em média R$80,00 para duas pessoas | Pousada Encantes do Nordeste: diárias a partir de R$ 318,00 (eco chalé single) | Pousada Jurará: diárias a partir de R$ 200,00 (apto single) | Valores apurados em novembro de 2017

*A jornalista Flávia Lelis viajou ao Maranhão a convite da Pousada Encantes do Nordeste e do Sebrae Maranhão. Em São Luís, recebeu apoio da operadora Taguatur e do hotel Pestana.


Rapha Aretakis

Viajante e sonhadora em tempo integral. Edito, escrevo e fotografo para o Raphanomundo desde 2010. Nascida no Recife, criada para o mundo, vivendo na Alemanha.

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